3/18/08

Entrevista para mestrando da UA

RESPOSTAS A ENTREVISTA DE N.V., 2008
Gonçalo Furtado
Licenciatura em Arquitectura na Universidade do Porto, com tese final sob orientação de MM e atribuição do Prémio Florêncio de Carvalho. Frequentou o Institute for Advanced Architectural Studies (Veneza), o mestrado Metropolis de Ignási Sola Morales (Barcelona), foi investigador como bolseiro da FLB com Neil Leach na Architectural Association (London), e doutorou-se na Batllett com Neil Spiller (Londres). Ensina na FAUP, sendo frequentemente convidado no mestrado de design industrial da FEUP-ESAD e na Escuela Superior de Disegno (Barcelona) etc. Co-organizou eventos como “Arquitectura: Prótese do Corpo”, “Arquitectura e SI”, “Multiple Scales” (Experimenta Design 2003), “Off Fórum” (Barcelona), “Tracing Portugal” (AA Londres), etc; e foi reviewer do A. Collegiates schools of Architecture (USA) colloquium em Helsinquy., etc Deu conferências em Portugal, Espanha, UK, USA, Colômbia, México, Brasil etc; e é autor de vários livros e artigos sobre arquitectura, arte e pensamento contemporâneo.
1. Pesquisa
A minha pesquisa concentra-se em “projectos críticos”, figuras em que se dilui a hierarquia entre projecto, teoria e construção, e que, independentemente se serem actualizados construtivamente ou não, tem como essência motorizar discussões no interior da disciplina quanto a aspectos pertinentes da contemporaneidade, com o propósito de a enriquecer e ás suas “projecções”. A sua operação ocorre em plataformas diversas, que incluem: construções, instalações, concursos, publicações, exposições, palestras, etc.
2. Experimentação
Para lá de um entendimento de Arquitectura como mero serviço que responde a encomendas de forma automática com soluções quase tipo - i.e. instrumentalizada senão subserviente do mundo da construção - considero possuir especial relevância disciplinar o privilégio da experimentação no projecto. Esta pode pressupor incluso a condução de acções meramente especulativas. (A meu ver, de resto, a importância de um projecto advém de aspectos variados relacionados com o seu valor de “proposta”, que não se restringem semente á sua capacidade de actualização maciça-imediata e comercialmente bem sucedida.)
Interessaria contribuir, num contexto de multi-discursividade efectiva, para um questionamento pós-estrutural da obviedade de variadas convenções institucionalizadas, tal como para o teste de novas concepções espaço-temporais. A meu ver, esta exploração pode contemplar vectores variados como novos métodos, lógicas construtivas, materiais, ambientes, formas, escalas, performances, etc. Em suma, experimentar opõe-se a convenções totalitárias, e aos simplistas interesses estéreis de soluções tipo, formas e imagens. Experimentar permite a heterogeneidade de leituras e especulações, explorar o potencial e os limites da disciplina, e exponenciar o potencial da prática.
3. Criatividade
A criatividade é pertinente num clima de esterilidade cultural e de abusiva engrenagem com as lógicas superficiais do mercado e circuito mediático. Interessa em particular superar o interesse simplista na mera plasticidade que se encontra em muitos exercícios formais contemporâneos (isto é, linguagens-posturas que mais não fazem que reproduzir o status quo).
Independentemente de inscrições no briefing-encomenda e das condicionantes ditadas pela pragmaticidade da produção que me é disponibilizada, entendo o projecto enquanto acto criativo de conceitos, processos e materialidades, e procuro privilegiar o valor de proposta intrínseco da solução. (O que desenvolvo - segundo a denominação avançada em livros anos atrás como “projecto critico” - visa precisamente questionar as lógicas do mundo da construção, a autoridade, e os efeitos inscritos nas convenções e encomenda-cliente. Isto é, desconstruir as margens da instiutição-Arquitectura, indagar sobre o propósito da arquitectura e papel do arquitecto, e trabalhar sobre oposições do tipo cheio-vazio, estar-circular, solo-cobertura, privado-público, etc. Quanto ás construções práticas que realizo para materializar problematizações específicas, mas sem qualquer encomenda, chamo “research critical artefacts”.) Procuro pensar e conceber arquitectura de acordo com uma postura pós-moderna, com tudo o que de não-linear, a-hierárquico e plural, aberto e evolucionário, esse pensamento pressupõe. Privilegio uma investigação contínua (baseada em premissas e acompanhada por uma teorização reflexiva crítica que evite prescrições mas explore a gama de potencial projectual e carga interventiva), promovo o cruzamento-contaminação transdisciplinar (com a arte, design, comunicação, ciências da comunicação, NT e filosofia), e, no processo, tomo o desconhecido-incerteza como produtivo (i.e. pauto-me por uma consciência Godelinana da incompletude do conhecimento).
4. Organização
O método de pesquisa influência certamente o resultado. Gosto de crer que pesquiso num laboratório sem restrições. O facto dos projectos não estarem á partida dirigidos para a construção do ambiente de acordo com o único interesse do lucro máximo, reduzindo o dimensão cultural da arquitectura á eficácia comercial e da imagem, obviamente que ajuda.
Os projectos são inicialmente vistos como oportunidade (de reflexão), questiona-se a homogeneização do convencional, e ambiciona-se identificar “outros” artefactos culturais críticos presentes nas “margens” da arquitectura com vista a contribuir para a expansão de um corpo disciplinar pós-moderno mais operativo. Eventuais colaborações trans-disciplinares propiciam-me cartografias produtivas, e interacções permanentes permitem a coexistência-diálogo de várias posturas intelectuais no desenvolvimento do projecto. Os resultados explicitam, dentro do possível, a problematização que esteve na base do projecto. Igualmente importante é o processo! (Como aludido, os “Projectos críticos” na contemporânea pós-modernidade assumem a dúvida no pensamento prescritivo, e privilegiam um papel da teoria no projecto enquanto motor de crítica auto-reflexiva com vista um permanente e benéfico barómetro disciplinar).
5. Interesses
São vários os interesses actuais e “projectos críticos” conceptualizados, procurando atender a fenómenos, problemas e desafios da contemporaneidade, dentro de um debate multi-discursivo simultaneamente aberto e crítico, que reivindique a operatividade contemporânea da Arquitectura.
- Reflexão sobre a produtividade advinda do foco sistémico da complexidade e do emergente (isto é teorias sistemas para lá do equilíbrio; caóticas, fractalizadas e catastróficas) para a epsitemologia do projecto de arquitectura.
- Investigações sobre graus de indeterminação projectual e de flexibilidade programática e espacial.
- Conceptualização de ambientes híbridos e responsivos e de interfaces para corpos prostetizados e ampliados.
- Eventual conceptualização da performance do futuro metaespaço (definido na convergência espaço-temporal / físico-digital) como contínuo dimensional evolucionário.

- Reconstrução critica de lances da história da Arquitectura radical e da Pré-história do actual contexto tecno-cultural.
- Análise pós-estrutual da transitoriedade imagético-política e discursividade da instituição.

1 comment:

Anonymous said...

Obrigado e até breve!

nunovarela@ua.pt